Amapá

“Um pouco além do arquipélago, onde acho que Deus mora”: livro póstumo de Fernando Canto é lançado em noite de emoção e homenagens em Macapá

Evento celebrou o Dia do Escritor e reuniu amigos, familiares, admiradores e grandes nomes da cultura amapaense.

Em uma noite marcada por emoção, poesia e saudade, foi lançado na última terça-feira (30), em Macapá, o livro “Um pouco além do arquipélago, onde acho que Deus mora”, primeira obra póstuma do escritor, professor e músico Fernando Canto. O evento, realizado no salão de festas Maison Nuance e promovido pelo Sesc Amapá, fez parte da programação em alusão ao Dia Nacional do Escritor, celebrado em 25 de julho.

O lançamento reuniu escritores, leitores, familiares e amigos do autor. Entre os presentes, Sônia Canto, viúva de Fernando, emocionou o público ao relembrar a trajetória do marido e o impacto duradouro de sua obra na literatura amazônica. Estiveram presentes o presidente da Academia Amapaense de Letras (AAL), Paulo Guerra, que abriu a noite com um depoimento sobre Canto, a quem ele sucedeu no cargo, e o senador Randolfe Rodrigues, também imortal da AAL, que recordou a obra de Fernando e citou trechos de seus textos.

A obra conduz o leitor por uma travessia entre o sagrado e o cotidiano amazônico, em textos que transitam entre a prosa poética, crônicas, contos e poemas. O livro mergulha nas paisagens simbólicas e afetivas do Bailique, nas raízes das samaumeiras e nas águas dos rios do Amapá, com uma linguagem que transforma a leitura em um ritual de pertencimento. No prólogo, Fernando afirma que “nada é sagrado ou profano, mas uma constelação de palavras estreladas”.

Além do lançamento da obra, o evento também apresentou livros de 22 autores amapaenses, valorizando a produção literária regional e promovendo o encontro entre gerações de escritores.

Essa é a primeira publicação póstuma individual de Fernando Canto. Em fevereiro deste ano, já havia sido lançado Antolobares, uma coletânea assinada por Fernando, Luiz Jorge Ferreira, Elton Tavares e Lorena Queiroz, também em homenagem ao autor, falecido em outubro de 2024.

Legado amazônico

Natural de Óbidos (PA), mas radicado no Amapá, Fernando Canto foi sociólogo, professor universitário, pesquisador, poeta, cronista, dramaturgo e músico. Fundador do Grupo Pilão, participou de festivais de música, atuou como gestor público e publicou mais de 20 livros — entre eles Mama Guga, O Centauro e as Amazonas, Canção do Amor-Enchente, Amapátria, Fedeu Morreu e Adoradores do Sol.

Sua obra é marcada pelo lirismo e por uma profunda conexão com a cultura, a paisagem e os conflitos da Amazônia. Ao longo da carreira, também produziu textos acadêmicos nas áreas de Sociologia e Antropologia, conciliando ciência e sensibilidade em sua escrita.

Trajetória e reconhecimento

Com graduação em Ciências Sociais, pós-graduações em Metodologia de Projetos Urbanos e Municipais, Teoria Antropológica, Desenvolvimento Sustentável e Gestão Ambiental, mestrado em Desenvolvimento Regional e doutorado em Sociologia, Fernando teve uma sólida atuação acadêmica e institucional. Foi professor, diretor de escola, coordenador de projetos culturais e assessor em diversas entidades públicas.

Sua contribuição à cultura e ao pensamento amazônico é celebrada tanto em publicações quanto em eventos, como a Mostra de Literatura Obidense, da qual participou em 2010. Seus livros abordam com maestria temas como identidade, memória, resistência e espiritualidade.

Uma noite para celebrar o eterno

O lançamento do livro “Um pouco além do arquipélago, onde acho que Deus mora” foi mais do que um evento literário: foi uma homenagem viva à obra e à memória de Fernando Canto. A presença de amigos, leitores e escritores reafirmou a importância do autor como um dos grandes intérpretes da alma amazônica.

Em cada fala e gesto da noite, o que se viu foi o reconhecimento de uma vida dedicada às palavras, à cultura e ao encantamento de transformar o Amapá em poesia.

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